Domingo, 9 de Março de 2008

Chegou esta semana a Portugal um dos mais surpreendentes discos de música popular dos últimos tempos, “Tudo azul” dos já veteranos Velha Guarda da Portela (grupo que junta vários elementos da Escola de Samba da Portela). Produzido por Marisa Monte (que também participa em dois temas) e com a presença de Paulinho da Viola, Cristina Buarque, Zeca Pagodinho, Moreno Veloso e Jaques Morelembaum, este é um disco clássico de samba, um disco clássico mas que soa moderno sem nunca comprometer a rica herança de um dos mais populares géneros musicais brasileiros. Aqui ouve-se música como ela deve ser, com emoção, com vigor, com sensibilidade, com alegria e sem recorrer a artifícios desnecessários … quase sem darmos por isso temos aqui um dos discos mais importantes dos últimos anos e o testemunho que o clássico quando bem feito é sempre moderno e surpreendente! Uma boa lição de vida e arte, 10/10.
Quinta-feira, 18 de Outubro de 2007

Mesmo que o disco “Beba-me” de Elza Soares não fosse um bom disco (e sim, é um excelente disco), a importância deste trabalho já valeria pela coragem da cantora que do alto dos seus 70 anos e depois de uma delicada operação ainda teve coragem de gravar ao vivo este CD que revive alguns dos maiores sambas da sua longa carreira. Elza sempre foi uma combatente e este “Beba-me” traduz de facto o que muitos sabem e muitos outros teimam em não ver (e ouvir…), Elza é uma das maiores cantoras do mundo! Ponto final, parágrafo. Tem uma presença em palco fantástica, uma voz única e um carisma que atravessou décadas sem oscilação. Gravado em Março deste ano no Teatro do SESC Vila Mariana em S. Paulo, “Beba-me” começa a acapella com “Meu guri”, torna-se dançante nos (excelentes) sambas “Beija-me” e “Estatutos da Gafiera”, diverte na interpretação primorosa de “O neguinho e a senhorita”, revela uma das melhores leituras para o clássico “Dor de cotovelo”, surpreende na lindíssima “Pranto livre” onde a cantora prescinde do microfone (bravo! bravo!), faz de “Lata d´água” a história de vida da própria Elza e com "Rap da felicidade" o teatro transforma-se numa enorme festa. Depois dos seminais “Do Cóccix até o pescoço” e “Vivo feliz” Elza Soares regressa ao seu reportório de sambas e mesmo sem inovar traz-nos um dos discos do ano. E venha de lá o DVD com o espectáculo na integra…9/10
Conheça um pouco mais deste disco
AQUI
Quinta-feira, 4 de Outubro de 2007

E ao terceiro CD Maria Rita abandona a atmosfera jazz/bossa nova que a caracteriza e entra no mundo do samba! E entra de mansinho, com um disco simples, correcto mas que chega longe…onde os anteriores não chegaram! “Samba meu” fica já registado como o melhor disco de Maria Rita e mesmo que alguns teimem em não ver (ou melhor ouvir) a cantora nunca soou tão genuína e verdadeira como neste trabalho que nos traz um dos sons mais conhecidos do país irmão...e é com alegria e satisfação que sambas como “Maltratar, não é direito”, a festiva “O homem falou”, a brilhante “Cria”, a orelhuda “Tá perdoado”, o swing de “Trajetória”ou a emotiva “Mente ao meu coração” entram no universo popular com tamanho entusiasmo e naturalidade.
Maria Rita abandonou a postura de Diva MPB mas consegue ao terceiro disco mostrar com ritmo e saber a sua verdadeira essência!! Recomendado, 8/10.
Domingo, 26 de Agosto de 2007

Já é conhecido o nome e o alinhamento do terceiro disco de Maria Rita, o trabalho com data prevista de lançamento para Setembro leva como título “Samba Meu” e terá 14 temas. Pode ouvir um excerto do primeiro (e excelente) single “Tá perdoado” no site oficial da cantora em:
http://www.maria-rita.com/
E aqui fica o set list:
1. Samba Meu
2. O Homem Falou
3. Maltratar, Não É Direito
4. Num Corpo Só
5. Cria
6. Tá Perdoado
7. Pra Declarar Minha Saudade
8. O Que É o Amor
9. Trajetória
10. Mente ao meu Coração
11. Novo Amor
12. Maria do Socorro
13. Corpitcho
14. Casa de Noca
Sábado, 11 de Agosto de 2007

Clara Moreno chega às lojas nacionais com o seu 5º disco: “Meu samba torto”. Longe da estética electrónica do anterior “Morena bossa nova” de 2004, “Meu samba torto” é um disco orgânico, quase acústico! Acompanhada por Celso Fonseca em 6 das 14 canções, Clara Moreno apresenta um trabalho coeso, recheado de óptimas composições (que aliam habilmente a simplicidade de um som acústico à envolvência da sonoridade “sambista”) e um trabalho de interpretação que fica já registado como o seu melhor até à data. Destaques deste CD ficam por conta de “Litorânea” delicioso dueto com Celso Fonseca, “Sabe quem”, a fantástica “Sei lá”, “Mon manege a moi” versão bossa-nova/samba do sucesso de Edith Piaf, a bonita leitura de “Copacabana”, “Meu samba torto” composição de Celso Fonseca naquele que é o melhor tema do disco, a piscadela ao jazz em “Vem morena vem”, a serena e emotiva “Ela vai pró mar” e uma surpresa de nome “Tenderly” em que a cantora é (apenas) acompanhada por uma guitarra eléctrica. Um disco muito interessante, com uma produção impecável e que coloca definitivamente na rota certa a promissora carreira de Clara Moreno, 7/10.
Segunda-feira, 18 de Dezembro de 2006
Já aqui falamos dele como lançamento e é agora altura de retornarmos ao mais novo (e fantástico…) CD da cantora brasileira Virgínia Rosa http://www2.uol.com.br/virginiarosa/. Pautado todo ele por uma produção excelente, óptima escolha de reportório e uma cantora em muito boa forma vocal, “Samba a dois” mostra que é a dedicação e musicalidade que fazem um bom trabalho e que este disco ombreia facilmente alguns recentes lançamentos de grandes nomes da MPB lançados e gravados por multinacionais. O disco abre com “Samba a dois”, composição de Marcelo Camelo, uma óptima canção que consegue modernizar o som “clássico” do samba e que seduz à primeira audição! A lindíssima e densa “Madrugada” que entra direitinha para a lista de melhores canções do ano (e não, não estou a brincar…), é outro destaque deste CD. Mas temos muito mais neste belíssimo trabalho: “Vem não vem” de Orlando Morais é uma balada muito bonita onde sobressai o som da guitarra portuguesa e a voz segura, contida e emotiva da cantora, a incursão pelo clássico de Cartola “As rosas não falam” é revisto aqui numa versão tango que destaca ainda mais o vigor da musicalidade do tema, bravo! Outra grande surpresa é a muito bem conseguida “Ao crepúsculo” dos nossos Madredeus, numa leitura que nada fica a dever ao original, começa lentamente e depois evolui para um tema quase mid-tempo com uma percussão fantástica, “Amado samba” de Luísa Maita traz-nos os ritmos quentes de África e para finalizar entre muitos outros destaques temos “Sonho e saudade”, gravada para banda sonora do filme “Bens confiscados” e que nos mostra uma Virgínia iluminada no seu canto e acompanhada maravilhosamente pelo piano de Tito Madi num tema clássico e que mostra de uma vez por todas que a cantora merece chegar logo, logo, à primeira liga das melhores vozes brasileiras da actualidade. Que o disco chegue rapidamente a Portugal e que consagre também aqui uma carreira que há muito merece uma maior exposição. 8/10