Quarta-feira, 2 de Janeiro de 2008
Em Maio no Teatro São Luíz, oportunidade para ver e ouvir Maria João, Pedro Abrunhosa e Rui Reininho em seis espectáculos únicos sobre o tema “Vinte canções de Amor e um Poema desesperado”. Segue as datas e o press-release:
13 e 14 de Maio – Maria João
15 e 16 de Maio – Rui Reininho
17 e 18 de Maio – Pedro Abrunhosa
“O conceito é simples, e a ambição é tão nobre como comum: a partir do mote Vinte Canções de Amor e Um poema Desesperado, três cantores de geografias musicais e afectivas diferentes aceitaram o desafio para conceberem um espectáculo único: Maria João (13 e 14 de Maio), Rui Reininho (15 e 16 de Maio) e Pedro Abrunhosa (17 e 18 de Maio), irão apresentar individualmente os seus olhares sobre o tema.
Como condição, a mais livre: um repertório seleccionado de vinte canções que cada um entenda ser de amor e um poema desesperado. Este é o ponto de partida e chegada: de resto, toda a concepção do espectáculo (cenografia, convidados, alinhamento, recolha de canções, autores e poemas) é da inteira responsabilidade de cada protagonista, que tem o palco aberto para expor as suas dúvidas ou certezas. Até porque estes são espectáculos muito perto da alma, íntimos por definição e necessidade.”
Sábado, 8 de Dezembro de 2007
Existem discos que mesmo não trazendo nada de novo ao panorama musical são de uma beleza ímpar, "Quem inventou o amor" de Nana Caymmi é um exemplo perfeito dessa definição! Não é a primeira vez que Nana grava a obra de seu pai, o saudoso Dorival Caymmi, mas continua a faze-lo com requinte, com muito bom gosto e o resultado é um dos discos mais bonitos de 2007. Os arranjos suaves, requintados e sempre no "tom" ideal valorizam ainda mais a voz da cantora, uma voz forte, bem demarcada que neste trabalho apresenta uma contenção exemplar de acordo com a atmosfera que embala todas as canções aqui presentes. As lindíssimas “Nem eu”, "Só louco", “Você não sabe amar”, "Copacabana”, “Desde ontem” ou “Saudade” são algumas das pérolas deste trabalho. Um disco raro nos dias de hoje em que o sentimento é muitas vezes ocultado pela produção em estúdio ou pela busca do sucesso fácil... mas também a surpresa não é assim tanta, temos aqui uma das mais celebradas obras de toda a MPB e uma das melhores cantoras do mundo, o resultado só podia ser um disco de "beleza ímpar". 9/10
Sexta-feira, 7 de Setembro de 2007
Gravado em 1969 na Livraria Quadrante em Lisboa, “Vinicius em Portugal” regista um recital do Poeta (sim, assim mesmo…com P maiúsculo!) que nos apresenta algumas das suas primeiras obras até ao então inédito poema “Sob o trópico de câncer”. Humor, saudade, o inevitável amor mas também uma actualidade desarmante que estes anos todos não apagaram da magistral obra deixada pelo “poetinha”. Um disco indispensável para os amantes da boa poesia mas e sobretudo um registo intemporal do talento do grande Vinicius de Moraes, seja pela qualidade dos textos aqui apresentados como pelos comentários, histórias e análises do próprio autor!
“Ternura"
Vinicius de Moraes
“Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado.
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.”
Domingo, 11 de Fevereiro de 2007
Comovente, poético e com uma linha narrativa que surpreende para um documentário tão rico em acontecimentos e pormenores (que vão desde a situação política do Brasil a tudo o que se passava na modernização da Música Popular Brasileira da altura), o filme-documentário "Vinicius- Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores" de Miguel Faria Jr, chega agora ao mercado nacional de DVD depois de uma honrosa passagem pelos cinemas.
Além claro de toda a magia sobre a vida de Vinicius de Moraes (com imagens de arquivo belíssimas) destaque ainda para os comentários apaixonantes de nomes como Maria Bethânia, Carlos Lyra, Chico Buarque, Caetano Veloso entre muitos outros e claro a Música (assim mesmo com M maiúsculo…) nas interpretações brilhantes de Mónica Salmaso em “Canto Triste” e “Insensatez”, Adriana Calcanhotto a iluminar “Eu sei que vou te amar”, Olívia Byington arrebatadora em “Modinha” e uma surpresa de nome Mariana de Moraes em versão jazz de “Coisa mais linda”.
Uma mui digna recriação da história de vida deste sr. que foi poeta, diplomata, compositor, crítico de cinema, cantor, bom-vivant, etc, etc... mas, e sobretudo (como Maria Bethânia tão bem disse), alguém que ensinou a todos que o mais importante é AMAR e receber de volta o AMOR. Para ver na companhia de algumas das mais bonitas canções já compostas e principalmente com uma admiração e saudade imensa do"poetinha". Viva Vinícius de Moraes, o "preto mais branco do Brasil”.
Edição em DVD com 2 discos. Extras: Música- um olhar detalhado, Cenas inéditas, entrevistas, galeria de fotos e trailer.
Sábado, 2 de Dezembro de 2006
O novo trabalho de Dulce Pontes, “O coração tem três portas”, é no mínimo um trabalho surpreendente. Focado no fado, ou melhor - na essência do fado, no folclore, na música de câmara e principalmente no talento global e universal de uma cantautora cada vez mais surpreendente (aqui está novamente o adjectivo…), sensível, a saber explorar como nunca aquela VOZ (sim, assim mesmo, com letras maiúsculas) e capaz sobretudo de colocar no mercado um álbum duplo com 26 “novas” músicas e não sentirmos em algum momento estar algo aqui a mais.
O primeiro CD, gravado ao vivo na última digressão da cantora, começa com fado, fado tradicional, clássico e vibrante, onde encontramos pérolas como “Ovelha negra”, “Maldição” ou um arrebatador “Não é desgraça ser pobre”. Visitamos depois Zeca Afonso numa das mais iluminadas interpretações de sempre da cantora “O meu menino é d´oiro”, que Dulce dedica ao seu filho. “Folclore”, tema de 11 minutos em que descobrimos 3 canções (“Cantiga da azeitona/ S. João e Aboio”) podia muito bem ser o ponto alto desta viagem mas ao chegarmos à belíssima versão de “La llorona” (popularizada pela grande Chavela Vargas) com Dulce Pontes a “voar”, dolente e contida, acompanhada pelo seu piano, percebemos aqui a essência deste trabalho: o Amor, a Sinceridade e sobretudo uma Paixão muito grande pela sua Arte.
O segundo “coração”, ou o segundo CD, traz-nos 10 músicas gravadas na Igreja de Santa Maria de Óbidos e no Convento de Cristo em Tomar. Gravado sem amplificação, quer da voz ou instrumentos é aqui que a música da cantora se revela mais espiritual, quase sacra, com o condão de nos deixar arrepiados, do princípio ao fim da audição. “A charola” tema instrumental (e muito bonito…) abre o disco, segue-se “O meu porto do Graal” excelente dueto com a galega Uxia (que regressa mais tarde em “Tenho uma casa no sul”, folclore que rompe o tom intimista do CD), a bonita adaptação de “Les amants de Turuel” (outrora cantada por Piaf), “Uma caixa de pó” e o remix de “Folclore” feito pela própria cantora são outros dos destaques deste trabalho. Bravo!
Chegamos ao terceiro “coração”, o DVD que acompanha esta edição e que é o complemento perfeito para este trabalho. Temos aqui excertos de um concerto da cantora em Istambul, uma entrevista conduzida por Riccardo Janelllo e o making of das gravações em Óbidos e Tomar que nos vai inteirando e aproximando (ainda) mais deste novo trabalho de uma das mais emocionantes vozes portuguesas.
Direitinho para a lista dos melhores lançamentos do ano.
Domingo, 26 de Novembro de 2006
Dois novos (e excelentes) discos no mercado e dois trabalhos de que já “falamos” aqui no blog…mas vamos por partes:
“Cristina Branco Live”- gravado na Holanda, apresenta um dos espectáculos da digressão “21 gramas” onde Cristina Branco homenageia a grande “responsável” pelo seu amor pelo fado- Amália Rodrigues. Vi este concerto na Casa da Música (pf consultar o histórico de 20 de Outubro…) e na altura a minha crítica dizia algo como “Mágico! Não há outra palavra para descrever o concerto “21 gramas” de Cristina Branco. Diz-se que 21 gramas é o peso da alma e de certeza que as almas de todos os que encheram a sala Suggia da Casa da Música saíram bem mais radiantes deste recital de bom gosto e bem cantar…” e de facto não há muito a acrescentar a este disco (também disponível o DVD do concerto) que recria a magia, o saber e a maturidade artística que a cantora tem vindo a mostrar a cada novo trabalho. No reportório encontramos pérolas do Fado como “Estranha forma de vida”, “Destino”, “Meu amor é marinheiro”, “Havemos de ir a Viana” ou "Formiga bossa nova" mas também José Afonso numa bonita rendição de “Redondo Vocábulo” e Pixinguinha em “Rosa”. Como bónus temos ainda uma emocionante “Maria Lisboa” gravada num concerto em Guimarães.
Bonito, sensível, intimista e a mostrar uma Senhora Cantora que ao vivo ainda consegue ser melhor que em estúdio.Bravo! 10/10
“Vinicius de Moraes- Trilha sonora do Filme” – depois de assistir a este filme (histórico de 26 de Outubro) sobre a vida e obra de um dos maiores poetas do séc. XX a sensação que ainda hoje perdura é a da saudade! De facto e apesar de não ter conhecido pessoalmente Vinicius de Moraes é quase impossível não me sentir “tocado” pela obra e vida deste Senhor que nos deu algumas das mais bonitas canções da Música Popular Brasileira e também pela sua vida, de excessos, de loucuras mas que foi sempre vivida à volta e procura de uma grande paixão, de um grande amor. Esta banda sonora que chega a Portugal pelo Círculo de leitores, importação pelas lojas Fnac e que será editado “oficialmente” pela Som Livre nos próximos dias, recria essa mesma magia e saudade. Vinícius interpretado por nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Toquinho ou Carlos Lyra valeria sempre a pena, mas o CD vai mais longe e traz-nos ainda algumas das declarações e poemas apresentados no filme o que cria um guião que valoriza ainda mais a obra apresentada. Outros destaques? Muitos e bons: Mónica Salmaso a “voar” nas interpretações de “Insensatez” e “Canto Triste”, Renato Braz a emocionar em “Se todos fossem iguais a você” e “Por toda a minha vida”, Olívia Byington a iluminar uma “Modinha”, Adriana Calcanhotto a cantar melhor que nunca em “Eu sei que vou te amar”, Mariana Moraes numa jazzística e mui sensual “Coisa mais linda” e ainda o samba “Sei lá…a vida tem sempre razão” muito bem defendido por Martn´ália. Um disco que consegue tudo: música e poesia excelentes defendidas por vozes e interpretações “maiores que a vida”, como o Amor deve ser…Indispensável 10/10