
É uma das grandes notícias do ano: a reedição do histórico “Canção do amor demais”, o histórico LP que juntou Elizete Cardoso, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto. A ideia partiu da editora Biscoito Fino, responsável por um dos catálogos mais ricos de Música Popular Brasileira dos últimos anos. Aqui fica o press-release do cd e a esperança que o mesmo chegue também a Portugal:
“CANÇÃO DO AMOR DEMAIS”
Em 1958 era lançado um LP que seria considerado como o marco inicial da Bossa Nova. Canção do Amor Demais, com Elizete Cardoso, tornou-se um disco histórico na música popular brasileira por ter revelado pela primeira vez a batida do violão de João Gilberto. Com 13 canções de António Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, Canção do Amor Demais (relançado em 1998) está saindo agora pela Biscoito Fino, comemorando os 50 anos da Bossa Nova.
Gravado pelo selo Festa, do jornalista Irineu Garcia, dois anos depois da estreia da peça Orfeu da Conceição, que marcou o início da parceria de Tom e Vinicius, Canção do Amor Demais é, segundo o poeta no texto do encarte, ‘‘a maior prova que podemos dar da sinceridade dessa amizade e dessa parceria. A partir dos sambas de Orfeu da Conceição, raras têm sido as vezes em que, de um encontro meu com o maestro, não resulta alguma composição nova, por isso que eu creio ser essa a verdadeira linguagem da nossa relação (...) E nunca houve entre nós quaisquer reservas no sentido de um tirar o outro de um impasse durante o trabalho. É possível mesmo que tudo isso se deva ao fato de que ele crê na poesia da música e eu creio na música da poesia’’.
É ainda Vinicius quem explica porque Elizete Cardoso foi convidada para cantar no LP: ‘‘É claro que, por ela interpretado, ele nos acrescenta ainda mais, pois fica sendo a obra conjunta de três grandes amigos; a gente que se quer bem para valer; gente que pode, em qualquer circunstância, contar um com o outro; gente, sobretudo, se danando para estrelismos e vaidades e glórias. Mas a diversidade dos sambas e canções exigia também uma voz particularmente afinada; de timbre popular brasileiro mas podendo respirar acima do puramente popular...E assim foi que a Divina impôs-se como a lua para uma noite de serenata’’. Gravado com uma roupagem orquestral altamente sofisticada, como explicou o jornalista Sérgio Augusto no Cancioneiro Jobim (2000), encorpada por instrumentos (trompa, oboé, harpa, fagote, clarone) raramente usados para acompanhar músicas populares, o por vezes camerístico Canção do Amor Demais contou com a participação muito especial - em duas faixas (Chega de Saudade e Outra Vez) - de um baiano chamado João Gilberto, cujo violão não tinha, sem hipérbole, similar, e de quem muito se ouviria falar nos meses, anos e décadas seguintes’’.
Além de João Gilberto, Tom Jobim escolheu também outros músicos de sua preferência, como o flautista Copinha, os trombonistas Gaúcho e Maciel, a violoncelista Nídia Soledade e o baterista Juca Stockler. No repertório, nove músicas de Tom e Vinicius (Chega de Saudade, Caminho de Pedra, Luciana, Janelas Abertas, Eu não Existo sem Você, Estrada Branca - só com Elizete e Tom ao piano -, Vida Bela, Modinha, Canção do Amor Demais); duas de Tom (As Praias Desertas e Outra Vez) e duas de Vinicius (Serenata do Adeus e Medo de Amar). À excepção de Outra Vez e Eu não Existo sem Você, todas eram inéditas em disco.
Anos depois, em Carta ao Tom 74, música composta com Toquinho, Vinicius de Moraes relembraria este momento marcante de sua vida: ‘‘Rua Nascimento Silva 107, você ensinando pra Elizete as canções de Canção do Amor Demais/Lembra que tempo feliz ai que saudade/Ipanema era só felicidade/era como se o amor morresse em paz’’.