
Foi esta semana lançado no Brasil o último trabalho discográfico de Eugénia Melo e Castro, “PoPortugal”. Aqui fica a crítica publicada no blog aquando do seu lançamento em Portugal:
Com temas que percorrem alguma da história pop nacional de 1972 a 2001, “PopPortugal” é um disco despretensioso, directo e que nos traz uma Eugénia Melo e Castro como desde “Paz” não a ouvíamos. Longe das majestosas e sentidas interpretações que ouvimos em “Des Cons Tru Ç ão”, Eugénia tem aqui um papel mais contido mas não menos eficaz, as canções com novos e surpreendentes arranjos aliam-se à sua voz e trazem-nos um dos grandes discos pop em português deste Verão, depois do lançamento de “Momento” de Bebel Gilberto e antes de “Sim” de Vanessa da Mata. E um disco pop é exactamente isto que ouvimos aqui: grandes canções, arranjos eficazes, uma voz que está sempre na medida certa mas, e sobretudo… um disco que se ouve bem e que vai crescendo a cada audição!
Não se pense no entanto que aqui se vai escutar um simples disco de versões, como na desconstrução da obra de Buarque, também “PoPortugal” apresenta uma leitura muito própria das canções apresentadas (na maioria delas só pela letra é que as conseguimos identificar) o que torna a viagem ainda mais saborosa. Temas a destacar existem muitos e bons: “Se quiseres ouvir cantar” (1972, Tozé Brito) é a primeira canção de “PopPortugal" e um dos mais bonitos temas do CD, pontuado por um coro etéreo e por uma interpretação sentida e a crescer à medida que a canção vai avançando, “Asas” (2000,GNR) é a grande surpresa deste trabalho, esqueçam pf o original (também ele excelente) pois aqui o que se ouve é uma canção “pop-trolaró”: luminosa, fresca, viciante, daquelas que apetece ouvir bem alto e cantar mais alto ainda, easy-listening? Sim sr! E como há muito não se ouvia…
…Sopro do coração” (2000, Clã), que este tema é uma das mais bonitas canções de toda a música já feita em Portugal ninguém tem dúvidas, agora como regravar um tema assim com a fasquia já tão alta? Pois bem, afinal é fácil, é só transportar a melodia para um registo jazz, moderar graves e agudos límpidos numa interpretação impecável e voilá, uma nova canção que se não ombreia o original pouco há-de faltar. “Romaria” (1983, Jafumega) o tema renasce aqui numa canção vigorosa em que sobressai um sax fantástico e um coro final no mínimo surpreendente. “Põe os teus braços à volta de mim” (1978,Gabriela Shaff) uma canção lindíssima e que Eugénia transporta para o seu mundo musical com um fundo electrónico a fazer lembrar o disco “Paz”, “Eu sou” (1981, Doce) - saudades das Doce? Pois bem, esta versão sussurrante e a milhas do original é uma das melhores e mais surpreendentes canções deste disco, densa, emotiva, e muito, muito bonita.
E é assim “PopPortugal” o novo disco de Eugénia Melo e Castro, um disco pop perfeito, e perfeito para ouvir num daqueles dias de Verão em que a música se quer simples, imediata mas com substância. 9/10