Sexta-feira, 7 de Setembro de 2007
Gravado em 1969 na Livraria Quadrante em Lisboa, “Vinicius em Portugal” regista um recital do Poeta (sim, assim mesmo…com P maiúsculo!) que nos apresenta algumas das suas primeiras obras até ao então inédito poema “Sob o trópico de câncer”. Humor, saudade, o inevitável amor mas também uma actualidade desarmante que estes anos todos não apagaram da magistral obra deixada pelo “poetinha”. Um disco indispensável para os amantes da boa poesia mas e sobretudo um registo intemporal do talento do grande Vinicius de Moraes, seja pela qualidade dos textos aqui apresentados como pelos comentários, histórias e análises do próprio autor!
“Ternura"
Vinicius de Moraes
“Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado.
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.”
Quarta-feira, 15 de Agosto de 2007
Maysa (falecida em 1977) foi uma das mais geniais e talentosas intérpretes/ compositoras da Música Popular Brasileira. “Esta chama que não vai passar” é um tributo a uma obra indispensável, mas e sobretudo, um tributo emocionante pela voz e alma de alguns dos maiores nomes da música actual! Alcione, Ney Matogrosso, Alaíde Costa, Maria Bethânia, Beth Carvalho, Bibi Ferreira, Zeca Baleiro, só para citar alguns, pegam em 20 temas escritos e/ou popularizados por Maysa e o resultado é um disco brilhante, em que a poesia e a música aliadas a excelentes interpretações nos fazem recordar a saudosa intérprete.
Maysa sempre escreveu e interpretou canções tristes e o tom dolente e emotivo deste tributo ganha asas e marca “personalidade” na maior parte dos temas aqui apresentados. Nota alta para Alcione arrebatadora em “Ouça”, Ney Matogrosso marcante em “Meu mundo caiu”, a contenção genial de Célia em “Nós”, Alaíde Costa numa interpretação fantástica de “Demais”, Maria Bethânia na lindíssima “Quando chegares”, “Bom dia tristeza” (um dos melhores temas do disco) com uma inspirada Beth Carvalho, Fernanda Porto espantosa em “Nego malandro do morro”, “Adeus” com Cida Moreira, “Até quem sabe” numa espantosa leitura por Arnaldo Antunes, a teatralização de Bibi Ferreira em “Suas mãos”, uma iluminada Claudette Soares em “Tema de Simone”, “Pra não mais voltar” no vozeirão de Leny Andrade e “Morrer de amor” com Cláudya.
Uma boa surpresa esta compilação, emotiva, sincera e com a certeza que “…esta chama não vai passar..." 10/10
Domingo, 11 de Fevereiro de 2007
Comovente, poético e com uma linha narrativa que surpreende para um documentário tão rico em acontecimentos e pormenores (que vão desde a situação política do Brasil a tudo o que se passava na modernização da Música Popular Brasileira da altura), o filme-documentário "Vinicius- Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores" de Miguel Faria Jr, chega agora ao mercado nacional de DVD depois de uma honrosa passagem pelos cinemas.
Além claro de toda a magia sobre a vida de Vinicius de Moraes (com imagens de arquivo belíssimas) destaque ainda para os comentários apaixonantes de nomes como Maria Bethânia, Carlos Lyra, Chico Buarque, Caetano Veloso entre muitos outros e claro a Música (assim mesmo com M maiúsculo…) nas interpretações brilhantes de Mónica Salmaso em “Canto Triste” e “Insensatez”, Adriana Calcanhotto a iluminar “Eu sei que vou te amar”, Olívia Byington arrebatadora em “Modinha” e uma surpresa de nome Mariana de Moraes em versão jazz de “Coisa mais linda”.
Uma mui digna recriação da história de vida deste sr. que foi poeta, diplomata, compositor, crítico de cinema, cantor, bom-vivant, etc, etc... mas, e sobretudo (como Maria Bethânia tão bem disse), alguém que ensinou a todos que o mais importante é AMAR e receber de volta o AMOR. Para ver na companhia de algumas das mais bonitas canções já compostas e principalmente com uma admiração e saudade imensa do"poetinha". Viva Vinícius de Moraes, o "preto mais branco do Brasil”.
Edição em DVD com 2 discos. Extras: Música- um olhar detalhado, Cenas inéditas, entrevistas, galeria de fotos e trailer.
Domingo, 26 de Novembro de 2006
Dois novos (e excelentes) discos no mercado e dois trabalhos de que já “falamos” aqui no blog…mas vamos por partes:
“Cristina Branco Live”- gravado na Holanda, apresenta um dos espectáculos da digressão “21 gramas” onde Cristina Branco homenageia a grande “responsável” pelo seu amor pelo fado- Amália Rodrigues. Vi este concerto na Casa da Música (pf consultar o histórico de 20 de Outubro…) e na altura a minha crítica dizia algo como “Mágico! Não há outra palavra para descrever o concerto “21 gramas” de Cristina Branco. Diz-se que 21 gramas é o peso da alma e de certeza que as almas de todos os que encheram a sala Suggia da Casa da Música saíram bem mais radiantes deste recital de bom gosto e bem cantar…” e de facto não há muito a acrescentar a este disco (também disponível o DVD do concerto) que recria a magia, o saber e a maturidade artística que a cantora tem vindo a mostrar a cada novo trabalho. No reportório encontramos pérolas do Fado como “Estranha forma de vida”, “Destino”, “Meu amor é marinheiro”, “Havemos de ir a Viana” ou "Formiga bossa nova" mas também José Afonso numa bonita rendição de “Redondo Vocábulo” e Pixinguinha em “Rosa”. Como bónus temos ainda uma emocionante “Maria Lisboa” gravada num concerto em Guimarães.
Bonito, sensível, intimista e a mostrar uma Senhora Cantora que ao vivo ainda consegue ser melhor que em estúdio.Bravo! 10/10
“Vinicius de Moraes- Trilha sonora do Filme” – depois de assistir a este filme (histórico de 26 de Outubro) sobre a vida e obra de um dos maiores poetas do séc. XX a sensação que ainda hoje perdura é a da saudade! De facto e apesar de não ter conhecido pessoalmente Vinicius de Moraes é quase impossível não me sentir “tocado” pela obra e vida deste Senhor que nos deu algumas das mais bonitas canções da Música Popular Brasileira e também pela sua vida, de excessos, de loucuras mas que foi sempre vivida à volta e procura de uma grande paixão, de um grande amor. Esta banda sonora que chega a Portugal pelo Círculo de leitores, importação pelas lojas Fnac e que será editado “oficialmente” pela Som Livre nos próximos dias, recria essa mesma magia e saudade. Vinícius interpretado por nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Toquinho ou Carlos Lyra valeria sempre a pena, mas o CD vai mais longe e traz-nos ainda algumas das declarações e poemas apresentados no filme o que cria um guião que valoriza ainda mais a obra apresentada. Outros destaques? Muitos e bons: Mónica Salmaso a “voar” nas interpretações de “Insensatez” e “Canto Triste”, Renato Braz a emocionar em “Se todos fossem iguais a você” e “Por toda a minha vida”, Olívia Byington a iluminar uma “Modinha”, Adriana Calcanhotto a cantar melhor que nunca em “Eu sei que vou te amar”, Mariana Moraes numa jazzística e mui sensual “Coisa mais linda” e ainda o samba “Sei lá…a vida tem sempre razão” muito bem defendido por Martn´ália. Um disco que consegue tudo: música e poesia excelentes defendidas por vozes e interpretações “maiores que a vida”, como o Amor deve ser…Indispensável 10/10