Coliseu do Porto, 29 de Julho de 2010
Lançado em 2009, “Zii e Zie” marcou o regresso de Caetano Veloso aos Coliseus de Lisboa e Porto com um espectáculo onde o rock foi a nota dominante. Com a banda Cê em palco o cantautor apresentou um concerto energético, visualmente forte e musicalmente poderoso onde às músicas sobejamente conhecidas pelo público como “Não identificado”, “Irene”, “Trem das cores”, “Sou neguinha”, “Força estranha”, “Maria Bethânia”, “Água”, “Desde que o samba é samba” (num belíssimo registo a voz e violão) ou “Luz de Tieta” juntaram-se as mais recentes e excelentes “Odeio você”, “A Base de Guantanamo” e “Lapa” numa autêntica festa que surpreendeu sobretudo pela juventude, pelo carisma e pela constante renovação do talento de Caetano Veloso em palco.
Lançado em 1996 num cd duplo é agora reeditado o trabalho em que Toquinho revisitou a sua obra em formato voz e violão. Intitulado “Toquinho, seu violão e suas canções” e disponível em dois discos (1 e 2), encontramos aqui algumas das melhores composições do cantautor que ao longo da sua carreira fez parceria com nomes como Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Francis Hime, Paulo Vanzolinni ou Jorge Bem Jor, todas aqui incluídas com principal enfoque na brilhante colaboração com Vinicius de Moraes (18 das canções aqui presentes são da autoria Toquinho- Vinicius). “Aquarela”, “Samba para Vinicius”, “Carta ao Tom-74”, “Tarde em Itapoã”, “A tonga da Mironga do Kabuletê”, “Lua cheia” ou “Carolina, Carol bela” são só algumas das grandes canções aqui gravadas num registo acústico que valoriza ainda mais a beleza das composições originais. Um excelente documento sobre a carreira de um dos maiores cantautores brasileiros de todos os tempos, 10/10.
Coliseu do Porto, 24 de Julho 2010
“Amor, Festa, Devoção” foi o nome escolhido por Maria Bethânia para o seu mais recente espectáculo. Os brilhantes discos “Tua” e “Encanteria” (lançados no inicio do ano em Portugal) deram o mote para um concerto intenso, arrebatador e que conquistou logo à primeira nota uma plateia atenta e visivelmente emocionada. Um concerto de Bethânia nunca é só um “simples” espectáculo musical e “Amor, Festa, Devoção” não fugiu à regra, visualmente muito bonito e com momentos de grande intensidade dramática, também foi festivo, poético e revelou em palco uma cantora cada vez mais iluminada e dona do seu talento. As já clássicas “O amor”, “Explode coração” (a acapella), uma inesperada “Fera ferida”, “Reconvexo” e “Não identificado” conviveram bem ao lado das novas canções e mostraram ao público português a força e garra de uma das maiores cantoras da actualidade.
Doze anos separam o recente “Troubadour” de “Phados”, o primeiro e aplaudido disco de Lula Pena. Cantora de inúmeros recursos, Lula Pena sempre soube embalar a sua música com uma personalidade muito própria e este “Troubadour” é belo, é inquietante, é estranho, é sedutor e é principalmente de uma simplicidade quase irreal. Dividido em 7 actos, como se de uma peça de teatro se tratasse, “Troubadour” é um grande disco de canções a voz e guitarra, sem artifícios ou manias. Aqui ouve-se música e música com M maiúsculo! Impressionante, 10/10.
Joyce e João Donato têm já uma longa e produtiva colaboração ao longo da carreira de ambos, “Aquarius” é o disco que junta as mais recentes colaborações dos dois cantautores mas também alguns dos temas mais emblemáticos das suas discografias em novas e belíssimas leituras. Jazz e bossa-nova dificilmente “casaram” tão bem como neste disco, onde a riqueza musical e poética iguala com o talento de dois artistas ímpares no panorama musical actual. “No fundo do mar”, “Amor nas estrelas”, “E passa o carrossel”, “Feminina”, “Caymmi visita Tom” e “Chama o Donato” são só algumas das pérolas num disco irretocável. Sem dúvida um dos grandes trabalhos discográficos do ano, 10/10.
Casa da Música, 17 Julho 2010
E o “Verão na Casa” da Casa da Música do Porto continua a dar-nos muita e boa música, desta vez foi altura do fado ser rei e senhor numa noite muito especial que juntou em palco Ana Sofia Varela e ainda o espectáculo de Tiago Torres da Silva - “As músicas que Amália inspirou”. Ana Sofia Varela foi a primeira a entrar em palco e trouxe-nos alguns fados clássicos como “Água e mel”, “Havemos de ir a Viana”, “Barco negro”, “Maria Madalena” e claro os grandes temas do sublime “Fados de amor e pecado”, vencedor recente do prémio Amália Rodrigues para melhor álbum do ano! Com uma presença em palco segura e uma voz potente e afinada, Ana Sofia Varela conquistou uma plateia atenta com um espectáculo simples mas emocionalmente complexo e arrebatador. Tiago Torres da Silva idealizou e com a presença e direcção artística de Pedro Jóia montou um excelente tributo à voz do fado - Amália Rodrigues. A espanhola Maria Berasarte, o brasileiro Edson Cordeiro e Anamar (este espectáculo marcou o regresso desta grande senhora) foram as vozes escolhidas para recriar em palco canções mas também poesias inspiradas por Amália Rodrigues e o resultado foi um espectáculo belíssimo e principalmente uma grande e sincera homenagem à "voz de todos nós". “Maria la portuguesa” de Carlos Cano, “Amália – voz de todos nós” de António Variações, “Amália” de Linda de Suza, o curioso samba-enredo da Escola de Samba Unidos da Tijuca dedicada à diva do fado, “Fado Amália” ou “Voz mediterrânica” de Tiago Torres da Silva com Pilar Homem de Melo foram só alguns dos grandes momentos de um espectáculo de facto memorável e que merece ser repetido por esse país fora.
Os Amarelo Manga levam o excelente disco de estreia “Verso Preso” ao Theatro Circo em Braga. Dia 24 de Julho às 22:00h.
Sétimo trabalho de Joana Amendoeira, “Sétimo fado” é seguramente o melhor disco da ainda curta mas interessante discografia da fadista. Depois de ter recebido o prémio Amália para melhor disco com o anterior “Joana Amendoeira & Mar Ensemble", a cantora dá-nos agora um disco multifacetado que sem abandonar o fado visita ainda a música ligeira, a música popular portuguesa e algumas marchas. Hélder Moutinho, Amélia Muge, João Monge, Bernardo Sassetti ou Fernando Girão são alguns dos nomes que assinam as canções aqui presentes e o resultado é um disco forte, coeso e homogéneo em que o carisma interpretativo da cantora sobressai naturalmente, 9/10.
Com apenas dois discos lançados (“Braseiro” de 2005 e “Que belo estranho dia pra se ter alegria” em 2007) Roberta Sá tornou-se uma das mais importantes cantoras da actual MPB. “Pra se ter alegria” é o primeiro registo ao vivo e traz-nos um dos concertos da última digressão da cantora que recentemente esteve em Portugal. Não se pode dizer que ao vivo a música de Roberta Sá seja muito diferente do registo em estúdio, mas é essa mesma semelhança que apoiada numa incrível técnica vocal e numa simplicidade desarmante que fazem deste “Pra se ter alegria” um disco brilhante. “Mais alguém”, “Samba de um minuto”, “Samba de amor e ódio”, “Girando na renda” com a participação de Pedro Luís, “Novo amor”, “No braseiro” e “Fogo e gasolina” mantêm o charme das gravações originais e como bónus temos direito a uma boa inédita - ”Agora sim”, composta pela cantora, Pedro Luís e Carlos Rennó. A edição nacional do cd tem ainda 4 excelentes temas extra gravados em estúdio: “Mambembe” com Chico Buarque, “Eu já não sei” com o nosso António Zambujo, “Peito vazio” com Ney Matogrosso e uma bonita rendição de “Modinha” com a participação de Yamandú Costa. Para ouvir com muita atenção, 09/10.
Mais dois grandes concertos de MPB marcados para este ano:
Jaques Morelenbaum e o seu Cello Samba Trio actuam dia 28 de Agosto no CCB em Lisboa, já em Outubro será a vez de Paula Morelenbaum apresentar o celebrado “Telecoteco” na casa da Música do Porto, o concerto será no dia 18 às 21:00h.